sábado, abril 27

Adicionando dinâmica

Não quero parar de blogar, mas ao mesmo tempo, o blogger tá devagar demais, difícil carregar fotos, eu mesmo, que sou a dona do espaço, venho aqui uma vez por semana. A culpa de tudo é o Facebook, onde encontro meus amigos, meus conhecidos, onde vejo foto de tudo e de todos.

Então tô levando o Dri na Holanda pra lá. Algum carcará sanguinolento já roubou meu Dri na Holanda, então o endereço ficará Adri na Holanda.

Eu confesso que não entendo lhufas de páginas no facebook, fiz uma simplezinha, por favor dêem pitacos pra eu melhorar o layout, se é que dá pra mudar o layout.

Além disso, outro motivo pra migrar para o Face é que lá quem quer continuar anônimo continua, mas quem quer dar um pitaco pode fazê-lo em dois palitinhos.

Povo, começa-se uma nova era, minha rabugentisse em tempo real, com fotos e estou curiosíssima pra saber quem são vocês!

Adri na Holanda no facebook

terça-feira, março 12

É Florida...

Comadre Holandesa, ninguém aqui quer briga não, a gente só gosta dum bom cunversê, eu os comentariastas... Foi-se o tempo dos trolls, esses agora estão ocupados demais no facebook. Além do mais, como é que eu vou brigar com você, se você é minha única chance de ter as cinzas jogadas no EPCOT no dia que eu morrer? Porque você falou e disse, bom mesmo só em Orlando.

A crítica, o momento pau-da-vida, não quer dizer que eu estou infeliz. Estou pê da vida com essa pagação desvairada de impostos e seguros; com o mau uso do dinheiro; com essa gente oportunista que estraga o que podia funcionar tão bem. Mas mesmo que eu estivesse "infeliz", tentaria mudar a situação aqui antes de pensar em voltar; eu já penso o contrário de você, não acho que se está ruim no trabalho a gente troca de trabalho, primeiro a gente tenta melhorar onde está, não é mesmo?

Muita gente acha que quem não tem filhos está "livre leve e solto" na vida, mas eu e meu marido somos um núcleo familiar como qualquer outro, eu tenho minha carreira, ele a dele, temos uma "pequena" hipoteca pra pagar, fizemos nossa vida aqui, não é só mandar tudo pra pontequepartiu e ir se aventurar em outro lugar do mundo. Fiz isso uma vez, antes de virar os 30 - jovem, e não encararia novamente nem que a tussa vaca. A não ser que fosse pra Orlando, claro :)

E já que a gente tá falando em carreira, tcheu contar pro povo aqui o novo capítulo da novela Old Fart.

E chegou o dia da avaliação intermediária do dito. Eu preparei toda a documentação, sabendo que ele ía encrencar com alguns dos pontos negativos me preparei pra respondê-los, acho que fui bem justa em atribuir também pontos positivos, enfim, estava otimista. A tal avaliação começa com "disciplina", que é justamente a pior parte do cara. Falei então dos sumiços. Falei da história da moça ( get down on your fucking knee ). Falei da arriação de calças no departamento. Disse que é inaceitável, que não é normal, que ele está perdendo o controle. Achei que ele fosse ficar bravo, mas ele deu uma risadinha, e respondeu: "relaxa, Adriana - foi tudo no espírito de brincadeira, quando é que VOCÊ vai baixar suas calças no departamento? @$%!* Contei até 5, disse que a reunião estava encerrada, fui direto para a sala do meu diretor. Expliquei pacientemente o ocorrido; ele chamou o Old Fart imediatamente e o cara levou um comunicado oficial, uma multa de 200 euros e está em "probation", mais uma reclamação e ele está fora. A criatura não negou nenhuma das "aprontações"; mas disse que ele achava que o desempenho dele com o dinheiro que ele traz pra companhia fosse mais que suficiente para não ser influenciado por esse pequeno "problempje" ( probleminha ). O diretor foi firme e disse que um não tem a ver com o outro, mais uma lambança e adeus.

Isso foi na sexta. Hoje ele deveria ter ido pra França. A coisa pegando fogo no departamento, ele aproveitou um dia que eu estava fora da empresa pra aprovar a viagem com o diretor, que sempre confia que se o funcionário está solicitando uma viagem de negócios é porque essa é mesmo necessária e que as coisas estão razoavelmente OK no escritório. Cheguei e não podia dizer não e contrariar o diretor, pior ainda é que seria uma reunião de 2 horas no fornecedor e um pulinho a Paris pra visitar uma feira de plásticos, fiquei lívida, tudo atrasado, parado, empepinado e o belezura passeando em Paris, pediu até pra secretária ver o preço da diária de casal pra ele levar a esposa! Eis que amanhece um metro de neve no chão, o norte da Europa parada, OF liga do trânsito 10 da matina pra dizer que estava preso no trânsito, não ía hoje pra França, pra secretária mudar a reserva para amanhã. Perguntei se a reunião ía ser adiada, e ele disse que ele iria só para a feira. Eu então mandei cancelar a viagem, só pra feira, nessas circunstâncias ( lançaremos o novo caminhão, com a presença do Principe Willelm Alexander dia 3 de Abril ), ele não ía. Esse homem virou um bicho, disse que a viagem tinha sido aprovada pelo diretor, que ele não queria saber, ía. Eu liguei pro diretor, expliquei o acontecido, ele me deu razão, falou com o fulano ao telefone. Era 4 da tarde. Eu tinha que esperar uma apresentação dele, devia ficar pronta as 3, esperei até as 7, necas. O diretor ligou de novo, cadê a apresentação no meu BB, não tá pronta, cheque que o OF entendeu que não é pra ele ir pra França, nisso ouço o OF dizendo pro colega que amanhã estaria em business trip, expliquei de novo que estava tudo cancelado. Deixei meu e-mail pessoal pra ele mandar a apresentação, teremos que nos reunir às 7:30 da matina pra discutir a apresentação, são 11 da noite e necas. Não sei da apresentação, não sei se OF estará na empresa amanhã, não sei se ligará se dizendo doente - como ameaçou.

O negócio tá feio, muito feio. O cara tá fazendo a cama dele. Eu vou ser sincera, apesar de querer me ver livre desse despacho, tenho dó da família, ele é a única renda da casa, está completamente individado, o negócio ficaria muito feio. Mas ó, tá difícil de aguentar. Tá Florida...

domingo, março 10

Answers is all we need

Comentando os comentários do post anterior ( que frase feia, blé )...

Comadre Holandesa, você é minha comadre querida, e não se ofenda, mas não aceito, admito, ouço ou encontro qualquer resquício de pensamento racional no "não está feliz aqui, volte pro Brasil". Caracas, todo imigrante ouve essa frase cada vez que tenta exprimir a mínima crítica ao país que vive, mesmo que os nativos estejam sentando a lenha em tudo e todos. E porque não posso criticar? Não sou cidadã holandesa? Não voto? Não pago impostos? Não movimento a economia ( e muito! ) ?

Quando uma sociedade inteira se submete a dividir metade do seu salário com a coletividade, espera-se que todos tenham uma vida decente e razoavelmente confortável, então como não criticar um governo que faz uma geração de jovens mães se questionarem se vale mesmo a pena voltar ao trabalho depois do parto e entregar todo o seu salário em pagamento de creche? E pior, pelo menos no grupo social em que eu me encontro, metade dessas jovens mães estão escolhendo ficar em casa. Estamos voltando no tempo!!! Lugar de mulher é em casa criando filhos, lavando, passando, cozinhando...

E sinceramente? Financeiramente nós estaríamos melhor no Brasil. Meus antigos colegas de trabalho ou de faculdade estão ganhando bem, estão trabalhando em indústrias que se modernizam numa velocidade impressionante, suas carreiras se movimentam ultra rápido... A maioria das minhas amigas estão casadas e com filhos, e numa casa com duas rendas, os ajuizados estão investindo em imóveis, estão viajando, estão morando muito bem. Notei um certo preconceito no seu comentário sobre a classe média paulista estar contratando empregadas paraguaias, mas e no que isso é diferente da holandesada que contrata o pedreiro polonês enquanto os pedreiros holandeses estão passando fome?

E minhas duas megas viagens por ano? Bom, foram só no ano passado e estouraram nossa conta, e certamente não se repetirão, voltaremos a fazer a viagem de pobre em maio e a melhor em dezembro, mas elas só são possíveis porque EU NÃO PAGO CRECHE, senão estaria indo pros appartamenten em Mallorca, quiçá um stacaravan ou até camping! Aliás, sabe a viagem pra Florida que a gente tanto pesquisa, e tenta baixar os custos, e divide casa com irmão, e etc? Um amigo da família, assalariado como a esposa, depois de 6 anos indo anualmente pros EUA pra visitar a Disney e comprar as roupas da família, juntou 2 anos de bonus de participação dos lucros, uma graninha aqui e acolá, e comprou um condo em Davenport!

Mas é isso, meu ponto é que as últimas mexidas nos benefícios holandeses são uma merda, não é justo o povo que tem que pagar creche tão caro, enquanto isso a chinesa da Bosch ( que é holandesa da gema, brabantista de Breda ) está NOVAMENTE morando fora e recebendo auxílio desemprego ( dessa vez em Singapura ). E é nosso dever questionar o que os políticos decidem fazer com o NOSSO dinheiro. E protestar quando não estamos de acordo.

E Paca... o depressão entre aspas assim está porque eu acredito sim em depressão, trabalhei com um senhor cujo filho se suicidou na linha do trem em frente ao escritório dele, e aquele homem mal saía de casa, não comia, ficava olhando pro vazio, era apático... mas a senhora "deprimida" participa do clube das motocicletas vintage e todos os sábados sai para encontrar os amigos e dar o passeio semanal de moto, até debaixo de neve, faz um cursinho de cupcakes as terças, e aula de zumba 2 vezes por semana. Ela vai uma vez a cada três meses no médico, chora dizendo que o pai abusou psicológicamente dela, por isso ela não consegue cuidar dos filhos, que diga-se de passagem, foram os dois planejados e gerados por FIV ( se teve problema psicológico como nascimento do primeiro filho, pq um segundo? ). Essa "depressão" pra mim é preguiça.

quinta-feira, fevereiro 28

R.E.V.O.L.T.A.D.A.

Deixa eu contar um pouco da minha perspectiva de "como é viver num país socialista".

 

Ontem um colega brasileiro comentava as maravilhas européias, transporte público bom, escolas bonitinhas, etc etc e etc. E sentenciou: olha que beleza as coisas num país onde não tem roubalheira. Verdade, caro colega, ajuda, mas a razão da belezura toda é bem outra: colega, você paga a maior taxa de imposto de renda brasileira que é 27.5%, eu pago 52%!

 

Sexta feira recebemos nosso salário adicionado do bonus de participação nos lucros da empresa. Como é pago ao mesmo tempo, 52% do meu bonus vai direto pro Leão. É injusto.

 

Na Holanda, é pecado mortal, passível de punição severa, merecível de torturas bárbaras, ganhar um pouco a mais que o "Jan Modaal" ( Jan Modaal é a personificação do cara que ganha o salário médio, que oficialmente é €33 mil por ano, que dá uns €1700 líquido por mês ). É pecado ir pra um hotel cinco estrelas de férias enquanto metade do país só tem grana pra acampar, eu só queria que alguém viesse aqui na empresa e checasse quem está aqui as 7 da noite, talvez eu deva colocar filminho no youtube do nosso Jan Modaal, apelidado de Forest Gump, que bate o ponto as 15:30 e corre, literalmente, casaquinho flutuando ao vento, pro carro pra evitar a fila que se forma no portão da empresa nesse horário – a fila dos Jans Modais. No Brasil a gente diria: vê as pingas que eu tomo, mas não vê os tombos que eu levo.

 

Um dos meus funcionários, assim como vários colegas e mesmo as amigas, reclamava que ele e a esposa vão ter subsídio ZERO na crèche da filhinha recém nascida de acordo com a nova lei. Com dupla renda, merecem duplo castigo. Por outro lado, meu funcionário Jan Modaal é casado, a esposa tem "depressão" e não pode trabalhar e ganha salário desemprego. Ela fica em casa o dia inteiro, mas tem que fazer tratamento psicológico duas vezes por semana, e não tem condição mental de cuidar dos filhos, logo o mais velho vai pra escolinha e o novinho vai pra crèche meio periodo todos os dias – enquanto ela fica em casa "deprimida" – e a família tem reembolso de 80% da crèche. E tem reembolso de €70 euros por pessoa no plano de saúde, e tem reembolso de aluguel. No fim do mês, o Jan Modaal tem livre €1000 na conta; que é o mesmo que meu colega do lado tem livre, com a diferença que ele tem mestrado, trabalha 50 horas por semana, praticamente todos os dias chega em casa tão tarde que a filha já está dormindo, e a esposa está já se preparando pra voltar a trabalhar.

 

Eu, sinceramente, vejo socialismo só da divisão de renda, na divisão de trabalho – ha ha ha, faz me rir.

 

É demotivante pros jovens, e é por isso que a Holanda há anos tem que importar mão de obra especializada – diga-se: com grau universitário. Aqui na Empresa acabamos de contratar um Mexicano, em abril começam uma Taiwanesa e uma outra brasileira. Fiz pessoalmente entrevistas para as vagas de "recém formados". Hoje em dia, pra atrair esse pessoal holandês recém formado, além de um salário legalzinho, você tem que prometer celular da moda, laptop fantastico, mil viagens de trabalho, e chegaram até a perguntar se ganham carro da empresa – benefício normalmente dado a empresas de consultoria, que dá o tal carro porque o funcionário está sempre indo de cá pra lá em clientes, e normalmente o salário dessas empresas é abaixo da media – meio que pra compensar o benefício do carro. Mas então… é difícil achar aquele candidato com vontade de pegar no batente, de ralar mesmo…

 

Essa taiwanesa que vai trabalhar conosco vem de uma das nossas empresas nos EUA. Durante a entrevista, havia um "gap" de 8 anos entre o fim da escola básica ( o colegial taiwanês ) e a faculdade. Ao ser perguntada, ela não se vexou: ela vem de uma família camponesa que não podia pagar faculdade pra ela, ela foi então pra Taipei, trabalhou 8 anos pra juntar o dinheiro pra faculdade. Quando começou a faculdade, era 8 anos mais velha que todos os outros alunos, e de uma classe social inferior, por isso a vida social dela foi limitada e ela estudou dia e noite. O resultado foi uma bolsa pra fazer MBA nos EUA e foi assim que ela acabou entrando na filial Americana. O chefe holandês e a moça do RH não cansam de repetir a história dela, porque aqui, pra holandesada, é uma história fantástica, ninguém aqui faria isso! Ou melhor, deixa eu criar um loop na generalização, poucos fariam isso. No fim, estudando ou não, trabalhando ou não, todo mundo acaba com mil contos na mão. Ha ha ha, novo motto holandês.

 

E já que já estou reclamando mesmo… Não vou usar praticamente benefício nenhum do governo holandês, mas pelo menos minha aposentadoria vai ser uma belezura… ERRADO! Pensam que minha aposentadoria está incluída nos 52% de impostos que eu pago? Necas de catipiribas. Em cima disso, ainda pago 8% de fundo de pensão, vai somando aí quanto dinheiro do meu salário eu não vejo. E como se não bastasse, esses 8% aparentemente não serão suficientes para garantir 75% do meu salário médio de aposentadoria, logo eu pago uma pensão "complementar" que dá uns 3% do salário. E, pra embelezar a situação, sei lá quem decidiu – vai ver foi a rainha antes de pendurar as chuteiras – que os fundos de pensão fizeram merda com aplicações financeiras em 2008-2009 e agora todo mundo tem que "doar" 6% do seu fundo de pensão pro Sinter Klaas. Sem choro nem vela.

 

Bom, tá aí, minha revolta. Daqui pra frente saibam: socialismo de ** é ****. Sou capitalista ferrenha, defenderei "cada um que cheire sua merda", ao invés de sempre ser forçada a cheirar a merda dos outros. Casa social? Taca fogo. Creche? 300 contos de desconto por cabeça, independente da renda, não pode pagar crèche, adote um cachorro.

 

R.E.V.O.L.T.A.D.A.

 

quarta-feira, fevereiro 13

Xitiplé ( onomatopéia de chicotada )

Eu sofro de depressão de inverno. Eu entretanto não acredito em depressão. Sempre que ouço as pessoas atribuindo tragédias pessoais à depressão, penso – nhé nhé nhé mi mi mi. O que eu chamo de depressão de inverno é na verdade uma extra sensibilidade às perrengas no dia-a-dia,e  coisas que eu tiraria de letra quando o sol brilha e tudo parece mais legal, arrasam comigo nesses meses frios e cinzas.  

 

Não vou, e repito, NÃO VOU, sentar e ficar “mimimizando” as mazelas da minha existência, me dou 10 dias pra sacodir a poeira e dar a volta por cima; ou vou pra médica pedir um anti-depressivo. Simples assim.

 

Em março tenho minha revisão de plano de carreira, tenho que preparar uma documentação de mais de 40 páginas. Comecei a fazer isso na semana passada e nesse “estado de espírito” só faltei chamar meu diretor e a empresa de fubangos xexelentos malemolentos dos infernos. É o exagero da tal depressão. Mas vejam meu ponto de vista:

 

-          Sou formada em Comércio Exterior, meu cargo exige que além das funções gerenciais eu seja gerente de conta de um fornecedor, e adivinha? O meu é um dos 3 fornecedores HOLANDESES do grupo;

-          Fui promovida a gerente há 3 anos, e ainda não fiz o curso de formação de gerentes da empresa em Seattle – a desculpa é que por causa do projeto meu tempo é mais bem aproveitado aqui do que uma semana no tal curso, mas enquanto isso sou em pastando pra gerenciar o Old Fart sem saber como

-          A empresa anda caçando no Mercado profissionais com experiência internacional; eu venho da Mecca automobilística em globalização, já apresentei 2 projetos de desenvolvimento na China, e nas duas vezes a resposta é a mesma que a do curso em Seattle: a essa altura do projeto, seu tempo é mais valioso aqui do que na China

Isso tudo está me deixando cada vez mais frustrada com o dia-a-dia do meu trabalho, é sempre a mesma coisa, e nos últimos 2 anos, 80% é coisa que eu não gosto de fazer, ou digamos, que eu faço mas não é meu forte.

 

Ontem eu estava macambúzea de ter que voltar ao trabalho depois de 4 dias de bem-bom. E somado à isso, marido e eu ainda não concordamos com nada pra casa e vivemos empacados, a casa feia por acabar. Eu de saco muito cheio, novamente amplificado pela depressão, esbarro no novo programa da Oprah, dessa vez visitando a India. E ela mostrava a casa dessa família, um casal com 3 filhas morando num cômodo de 3 X 3. Chorei cântaros, a menininha falando que é sim feliz, que a vida dela não era difícil, tinham comida, lugar para dormir, ela ía à escola… E eu ali, de chororô por causa dos lustres da sala… No fim a Oprah acaba a matéria perguntando: quanto a gente realmente necessita pra “viver”?

 

Adriana, o que você precisa pra viver? Cortininhas Luxaflex? Uma barra de Lindt? Me senti pequena, povo, muito pequena…

 

Hoje vou ao salão de bronzeamento, ver se os raios UVA/UVB da maquininha me ajudam, se na semana que vem não tiver dado resultado, remédio goela abaixo, porque ficar empacando minha vida, ou pior, tomar decisões erradas por causa de depressãozinha de inverno não é comigo. Depressão, mimimi, a gente trata assim, na chicotada.

 

quarta-feira, fevereiro 6

Deliberações de quem está esperando uma reunião começar

No facebook esse semana, acompanhei uma conversa onde um dos “postantes” dizia: não gosto de compromisso financeiro, não pago hipoteca, não pego empréstimo, nem carro tenho. Não sei se admiro ou me espanto com gente assim. Não sei se era o caso da pessoa, porque não a conheço, mas nos outros casos que vi, eram normalmente pessoas que trabalham porque precisam da grana, claro, mas não são “carreiristas”, se é que você me entende.

 

Se por um lado fico pensando na liberdade que é ter suas possessões materiais facilmente acomodáveis numa mala de bom tamanho, uma conta bancária com total liquidez, e o completo desprendimento de qualquer outro compromisso financeiro; por outro lado não entendo a falta de preocupação financeira com o futuro – tão inerente ao ser humano com seu senso de preservação. E também não sei se entendo o desprendimento do “ter que ser dono da própria casa”. Na família do meu pai tivemos parentes que tiveram muito dinheiro e viviam de aluguel, diziam: comprar uma casa e se prender pra que? Estou muito bem na minha casa alugada, quando me cansar, alugo outra. Eu era adolescente, e achava um conceito legal. Anos mais tarde eles perderam tudo, a única coisa que tinha foi um apartamento que nos bons tempos, por capricho, compraram para os pais idosos.

 

Anyway. A conversa ía, coincidentalmente, sobre comprar e manter um carro. A pessoa em questão dizia que estava farta da NS, empresa de transporte ferroviário holandesa. Usei o serviço intensamente por quase dois anos, e seu apreço pela empresa tem fases. Para nós, no começo, é de deslumbre. Os trens, comparados com os brasileiros, chegam razoavelmente no horário, digo razoavelmente porque uns 90% deles estão milimétricamente no horário, mas aqueles 10% que atrasam te deixam plantados numa estação fria, te fazem andar de cima pra baixo de um trilho pro outro, ou simplesmente te deixam lá, sem informação, ou com a informação de que aquele trem foi sumariamente cancelado e o próximo só dali a 30 minutos. Isso com o tempo vai te irritando, te irritando… Os trens são razoavelmente confortáveis, pra mim que pegava praticamente na estação inicial e descia praticamente na estação final, era ultra confortável, sempre sentava, com aquecedorzinho, ótemo; mas muitos que pegavam o trem nas estações intermediárias tinham que ir de pé. E você tem sim que conviver com muita gente sem noção; senhoras escandalosas conversando aos berros, adolescente tocando música alta no telefone, os infelizes com malditos fones de ouvidos zumbindo ao seu lado; neguinho falando alto no celular a viagem inteira… Sem falar os fedidos, os embriagados, os drogados, o povo com criança sem educação…

 

Eu concluí que até congestionamento é melhor que trem, se você vai usá-lo todos os dias. Começa pela observação de uma das comadres: é porta-a-porta, você sai cheirosinha de casa, chapinha em dia, perfume e maquiagem bombando, e chega no trabalho no mesmo estado. Chuva tem pouca importância pra você. Neve quer dizer raspar os vidros, mas é fácil. E de resto, você está sozinho no seu carrinho quentinho e sequinho, sentadinho confortávelmente, ouvindo Adelão e tentando cantar junto, carrega o que quiser com você… Não importa se for um fusquinha 66, sua vida ganhará uma nova dimensão nessa terrinha no dia que você se motorizar.

 

E conversávamos sobre isso no trabalho quando um dos colegas holandeses, que já morou em SP observou: engraçado o brasileiro, o paulista, na terra dele ele usa o carro pra tudo, não chega nem perto do metro ou ônibus, e na Europa adora usar transporte public. Expliquei que é simples, metrôs como o de Londres, Paris, são o sonho do brasileiro, organizado, abrangente, prático, confortável.

 

Eu, confesso, tenho um fraco por bondes, onde tiver bondinho, lá está a Adriana. Adoro os trams de Amsterdam e em Lisboa fiz a festa, até no bondinho rouba-rouba eu andei.

 

 

segunda-feira, fevereiro 4

Oi, breque de boi! ( expressão paulista que não quer dizer nada )

Dir-vos-ei, fiéis leitores, fazer dieta é uma merda, não importa qual.

Não tô falando de dietinha de quem quer emagrecer 10 quilinhos, tô falando de dieta messssmo, de gente gorda messssmo.

Praquele que diz que essa dieta ou aquela dieta dá mal humor ou cansaço: todas dão! Gorducho tá acostumado a acordar e comer dois pãezinhos de padaria, com manteiga, moçarela, presunto, daí o Vigilantão – que garante que você pode comer de tudo – te deixa comer meio pãozinho sem miolo com uma milimétrica camada de Philadélphia Light ( ou requeijão zero, que me disseram que no Brasil agora tem ). Me digam, como não ficar de mal humor?

O fato pra mim é, não importa se você vai cortar carbs, se você vai contar pontos, se você vai tomar shakes, meu corpitcho se rebela com qualquer restrição. E a dieta-não-dieta da Paca também não tem futuro: se eu for comer o que quero e pronto, só comeria pipoca e double chocolate cookies pro resto da vida, e muitos, minha gente.

Então que, no meio da Dukan, fui de viagem a trabalho pra Alemanha. E vou aproveitar o gancho pra parar de falar de dieta, que isso é assunto de gente chata ( pior é o gordo-dieteiro que fica narrando a perda de peso dia-a-dia ).

Todas as vezes que vou pra Alemanha, amo as cidades que visito. E olha que nem todas são turísticas não. Dessa vez chegamos em Munich, que é linda, maravilhosa, fantástica; e fomos em direção à fronteira rumo a uma cidade chamada Deggendorf. Nos hospedamos ali, passeamos pelo centrinho da cidade – lindinho, parecia uma pintura – jantamos muito bem. No dia seguinte fomos montanha acima para a cidade de Zwisel, onde fazem os cristais famosos. A temperatura vai caindo, muita neve, e emoção: vi meu primeiro ski-lift! A cidadezinha é bem simpática também, pena que nosso “tour” tenha sido perdidos, com um dos colegas teimando em não usar o TomTom ( coisa de homem, claro ).

Preciso um dia pegar um carro e fazer a Rota Romantica pela Bavária.

E, pra não perder o costume, sabem qual foi a última do Old Fart? Ele estava falando de uma negociação, que o fornecedor “levou dele até as calças”, um colega brincou “ah, mentira, você ainda está de calças”, e ele sem pensar um minuto abriu as calças e jogou as calças no chão, ficou aqui no meio do departamento de cuecão samba-canção. Claro que isso aconteceu quando eu não estava aqui, mas ao menos 5 pessoas viram. Agora pergunto-vos: esse senhor tem algum problema psicológico ou não?

quinta-feira, janeiro 17

Analisando essa cadeia hereditária, quero me livrar dessa situação precária

Perdi meu mojo.

Estamos em meio de janeiro, as promoções para as férias de maio acabando, e o que vamos fazer? Não sei.

Queria um hotel all-inclusive fantástico, numa praia linda e não muito lotada, a menos de 3 horas de avião, custando menos de €1500 por pessoa por 2 semanas. A resposta certinha pro meu dilema é a Turquia, mas o marido quer ouvir o Alexandre Frota cantando Festa no Apê, e não quer ouvir de ir pra Turquia.

A gente é cobrado tanto de ser politicamente correta, e de não ter preconceitos, e os holandeses se acham tão "tolerantes", até você falar de turquia e dos turcos. E vou extender: de pobre. Se for turco pobre, valha-me deus.

Minha vizinhança é um bairro novo feito ao lado da vizinhança turca de Eindhoven. Meu bairro era uma "favela", ou o que mais se aproxima disso. A vizinhança dos turcos emendou na vizinhança das "casas sociais", que emendou nos "woonwagenkamp" aqueles parques de trailers. Há 10 anos decidiu-se "limpar" o bairro, "Eindhoven sem gueto", diziam. Os trailers foram todos removidos. Aqui tem umas casas-trailers, na verdade umas casas pré-fabricadas, que nem são feias, mas holandês odeia ( e com certa razão, elas não pagam impostos ), foram também removidas, apenas uma ruelinha com as mais novas obteve permissão pra ficar. As casas sociais foram vendidas e os moradores realocados.

Pausa para Explicação:

Aqui na Holanda, toda prefeitura é dona de umas casas que eles alugam a preços módicos para quem precisa, a tal casa social. Eu não entendo 100% do negócio, mas você prova que tem baixa renda, entra numa fila, e quando chega sua vez pode alugar uma dessas casas. Um studio em Eindhoven custa ao redor de €800 por mês em aluguel normal, minha antiga empregada tinha uma dessas casas sociais aqui perto e pagava €280, e era uma casa muito boa. Holandeses questionam muito esse "benefício", porque deveria ser usado para dar uma ajudazinha temporária para quem cai em tempos difíceis, 1 ou 2 anos, mas o que se observa é que muita gente, principalmente profissionais liberais, ganham no papel pouco, recebem "no black", e acabam vivendo nessas casas a vida inteira. Eu, pra ser sincera, não sei o que pensar, imagino minha antiga empregada, com salário de 1200 euros, como pagar um aluguel tão caro? Mas ela mesmo, por fora, tirava uma boa grana no preto fazendo faxinas, oficialmente não se qualificaria pra tal casa. E aquele que ganha 1200 euros por mês, tendo uma casa boa por 280 euros, tem muito incentivo pra se esforçar e melhorar de vida? E melhorar de vida é só uma questão de esforço? Então… não sei.

Voltando ao assunto

Quando compramos a nossa casa, mostraram todo o plano de revitalização da área, muita gente tinha um preconceito enorme com aquela região, então a prefeitura deu garantias de que o bairro ficaria lindinho, como no papel. Um fator que influencia muito no preço da sua casa é se sua vizinhaça tem casas alugadas, ninguém quer morar perto de casas alugadas, e nos foi prometido que o bairro seria inteiro de "casas próprias".

Por enquanto, tudo que prometeram, cumpriram, mas é difícil vencer os preconceitos holandeses. Por exemplo, a escola do bairro era considerada uma "escola preta", até o termo é feio. Quer dizer que tem muitos estrangeiros ou decendentes de ( leia-se: turcos, marroquinos, antilhanos; porque para os outros estrangeiros, o termo é "escola internacional" ), então demoliram a escola velha e construiram uma escola nova, linda, modernésima, a idéia era transformar em "escola cinza", ou seja, com uma proporção melhor de "pretos" e holandeses. Só que os moradores do meu bairro ( a parte nova ) se recusam a trazer seus filhos pra essa escola e misturá-los, então pegam seus carros de manhã e vão pros cafundós onde moravam trazer os filhos pra escola. Até a creche, linda, da rede KoreinPlein ( a principal de Eindhoven ) está vazia ( já ouviram falar de creche vazia na Holanda? ), porque o povo não quer misturar nem os bebês.

Na "ponta" do bairro fica o asilo de animais. Como já disse aqui, me surpreendeu a baixa quantidade de animais ali, a maioria fica em casa de voluntários, então o asilo não é muito grande, não tem cheiro nenhum, mas eventualmente, tem uns latidos. Passo sempre por ali quando vou fazer caminhada, nunca ouço um pio. O plano era mover o asilo e construir casas ao redor, mas muita gente protestou contra mover o asilo, afinal ele fica no meio da cidade e é fácil pra qualquer um que quer um animalzinho chegar ali, até de ônibus, pra adotar; se fosse transferido pra Coxipó da Ponte, muita gente não ía nem ter como ir pra lá. O resultado é que o asilo fica, e a construtora diz que, especialmente nessa crise, não conseguirá vender casas ali. A proposta da prefeitura é construir então, casas sociais. Gente, nunca vi tamanho furor nos vizinhos. Mais do que rápido se organizou uma comissão de moradores, se contratou um advogado, contactou-se o jornal local. Meus vizinhos holandeses tolerantes toleram tudo, menos pobre ali do lado deles! O interessante é que o manifesto para pedir uma pracinha pras crianças teve uns 30 colaboradores, esse do movimento "anti-pobre" tem mais de 200!

Eu gostaria de dizer que pouco me importo, mas estaria mentindo. O pessoal das casas pré-fabricadas frequenta o mercado local, e são ultra estranhos, ontem tinha um obviamente "under influence" e tiveram que chamar um segurança; e no verão, dão festas de rua com o som nas últimas, sempre tem um vizinho chamando a polícia. Mas o principal é que se isso acontecer, o preço da nossa casa vai cair ainda mais. Com a crise, meu bairro inteiro está pagando por casas que hoje valem 100 mil a menos que valiam quando compramos, e agora com mais essa…

Não sei no que vai dar, nem o drama da vizinhança, nem meu dilema de férias. Em breve, cenas do próximo capítulo. ( gente, acabaram com as cenas do próximo capítulo nas novelas, né? )

segunda-feira, janeiro 14

Mas, né

Ultimamente tenho achado meu trabalho chato, muito chato.

Olho pro lado e as coisas chatérrimas empilhando, e as legaizinhas não são prioridades, eu não tenho tempo pra fazer.

Em certos momentos eu invejo que tem uma ziquezira no meio da sua carreira profissional e muda de ramo completamente.

Uma vez, numa dessas minhas (muitas) reclamações sobre o trabalho, recebi o e-mail de uma pessoa: pelo amor de deus Adriana, cala a boca e vai trabalhar. Eu estou aqui sem emprego, temos que escolher qual conta pra pagar no fim do mês, estou há X anos sem voltar ao Brasil, e você aí, com trabalho perto de casa, ganhando bem, e reclamando.

Então. Não vou reclamar. Mas, né…

quarta-feira, janeiro 9

Alles komt goed, schatje

Vou fazer um post doido pra falar de duas coisas (ou três ) absolutamente não relacionadas uma com a outra.

Lembram-se do vizinho doido encrenqueiro com a vaga pública de estacionar? Recapitulando: minha casa tem duas vagas descobertas para estacionar, mas quando eu chego em casa e o marido ainda não está ( raro ), eu estaciono na primeira vaga na rua que aparece. Meu vizinho tem uma garagem que ele usa pras quinquilharias dele e estaciona o BMW ( velho ) na rua, ele não tem vaga de garagem descoberta como eu tenho. Modiquê ele acha que a vaga pública em frente a casa dele ( em frente a minha também, só que cruzando nossa ruela ) é particular dele, só dele, e que qualquer um que olhar pra vaga é asociaal ( enorme xingamento prum holandês ). Ele veio encrencar comigo duas vezes, na segunda falei que ía pra polícia ( blefe, claro ). Sábado saímos com o carro do Bart porque estava a um mês dentro da nossa garagem ( e o meu estacionado na vaga descoberta ), logo, tive que tirar meu carro do lugar ( nossas 3 vagas são uma atrás da outra ) e estacionei na rua, na vaga do carcará sanquinolento, e assim que chegasse com o marido, ía colocar meu carro de novo atrás do dele nas nossas vagas. Chegamos, entrei com os pacotes, o marido é encurralado pelo retardado do vizinho reclamando novamente – vejam que eu fiquei fora do país por um mês, meu carro estacionado bonitinho na minha garagem – que eu SEMPRE roubo o lugar DELE, que somos asociaal. Corno maledeto, pinto caído do caramba. O Bart, que tem 99% menos paciência do que eu, falou pro cara que asociaal é ele, que chegou a estacionar o carro dele na NOSSA garagem, e que se ele está incomodado, pra chamar a polícia. Até quando, até quaaaaando terei que aguentar essa oferenda que Iemanjá devolveu? A casa dele está a venda a exatos 2 anos.

E a segunda coisa, que não tem nada a ver. O ser humano quer sempre, seeeempre o que não pode ou o que é difícil ter, né?

A gringaiada toda lá na Tailândia fritando ao sol, e os tailandeses, e asiáticos de uma forma geral, usando crème branqueador! WTF? Marido empacotou o tubo de protetor errado, modiquê tivemos que comprar um por lá, queríamos o fps 50. Feliz da vida achamos o Nivea, a marca favorita do marido, mas TODOS com branqueador! Desnecessário dizer que se o marido ficar mais branco fica transparente, né? Tivemos que pegar um táxi, ir até um TESCO ( sim, tem moooito Tesco na Tailândia )e comprar um Nivea sem branqueador. Ficamos abobalhados em ver protetor solar fator 135! Os hidratantes corporais TODOS com branqueador, tive que comprar um Johnsons Baby.

A única coisa que aparentemente todo mundo quer, é ser magro. Pra nossa sorte, inventaram dietas pra agradar todo mundo, low carb, low calories, low fat, reeducação alimentar ( low calories disfarçada ) e sempre que se comenta qualquer uma, tem gente jurando a eficácia dela e um igual número de pessoas que esconjuram. Queria eu ter a paz de espírito para adotar a dieta não dieta da Paca, que não vai lead her to bingeing, e ela vai ficar magra comendo M&M. Paca, traduzimos bingeing como?

Eu, colegas, fico aqui, mal de vizinho, bronzeada ( por uns 25 dias mais, depois desbotada ), e seguindo a dieta numero 39.

Alles komt goed, schatje.